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Assentamento baiano é modelo de empoderamento feminino e de trabalho comunitário

Atualizado: 19 de fev. de 2021


Com uma história em plena construção, a comunidade do Assentamento Terra Vista em Arataca, Sul da Bahia, completa 28 anos de fase pós-conquista da reforma agrária, que deu a descendentes de índios e de negros daquele lugar o direito de uso sobre uma área de 919 hectares.


Plantada em 1992, aquela semente resultante da luta pela terra gerou uma planta “resiliente”, termo usado por uma das moradoras e membro do Grupo de Mulheres Arte da Terra, Aniele Silveira, ao identificar a comunidade. Aliás, é oportuna a comparação entre o assentamento e uma planta, hoje uma bela árvore adulta.

GiOrigin - O ante e depois do Assentamento Terra Vista - Arataca
O tronco, robusto e vigoroso, seria a própria comunidade, consolidada em um sistema de economia solidária que promove o desenvolvimento comunitário sustentável através da valorização de cada núcleo familiar. Em nossa analogia, essas famílias seriam as folhas dessa árvore imaginária.

Cada uma das 55 famílias trabalha de sol a sol, fortalecendo o núcleo familiar e todo o sistema agroecológico do assentamento. A energia necessária para o trabalho vem das raízes dessa comunidade: a história de luta, a cultura e o saber fazer dessa gente, herança dos antepassados, pessoas que dedicaram a vida pelos seus pares e que sempre trabalharam pela sustentabilidade do lugar.


Como já dá para imaginar, os frutos do assentamento são saborosos, cheirosos, saudáveis e desejáveis. Mas ainda não é possível falar dos produtos sem antes conhecer a seiva que frutifica toda essa energia. As mulheres do lugar são como o sangue nas veias da comunidade. “A gente está criando uma economia feminista, um ciclo de empoderamento da mulher camponesa, daquela mulher que não é frágil, não é o sexo frágil”, resume Aniele.

 

Uma árvore, muitos frutos!


Sobre a terra degradada de antes da reforma agrária foi feito um intenso trabalho de conscientização, reflorestamento e cuidado com as nascentes. A agroecologia implantada no ano 2000 transformou de vez o conceito da comunidade que se tornou ambientalmente sustentável e inovador.

Atualmente, o Grupo de Mulheres Arte da Terra do Assentamento Terra Vista transforma as riquezas extraídas da natureza em diversos produtos que ajudam no sustento da comunidade.


Tudo começa a partir da extração dos óleos essenciais de folhas, raízes, caules ou de plantas inteiras encontradas naquele bioma de mata atlântica: lírio do brejo, pitanga, citronela, limão, laranja, tangerina, aroeira, pimenta rosa, dentre outras.

GiOrigin - Óleos essenciais

Da destilação desses óleos essenciais, obtém-se os hidrolatos, conhecidos como águas florais. É a base para uma série de produtos: cosméticos, sabonetes, repelente, pó dental, enxaguante bucal, escalda-pés, kumbaya, protetor solar, protetor labial, hidratante corporal, pomada de babosa, fitoterápicos, óleo de massagem, incensos, xampu, xarope e perfumes.


O Grupo também comercializa a argila vermelha e a argila cinza, retiradas da terra do próprio assentamento e usadas em terapias especiais, e usa o cacau na produção da manteiga, do nibs e do chocolate fino, uma especiaria que tem conquistado um mercado muito exigente com sabor e qualidade especiais.

GiOrigin - Aniele Silveira e os produtos do Grupo de Mulheres Arte da Terra
Aniele Silveira e os produtos do Grupo de Mulheres Arte da Terra

Até mesmo na comercialização da produção a comunidade se mantém unida e promove uma economia solidária e colaborativa. A venda é feita na própria comunidade, em feiras em cidades maiores e próximas, como Itabuna e Ilhéus, e em eventos. Ultimamente, como consequência das medidas de isolamento social por causa da pandemia de Covid-19, os grupos de compra coletiva, sobretudo pela internet, se tornaram o principal meio de escoamento da produção, o que tem ajudado a manter a saúde financeira da comunidade mesmo durante esse período.

Na visão dessas mulheres, a copa dessa grande árvore gerada pela reforma agrária e fortalecida pelo trabalho caprichoso ainda tem muito o que crescer. Elas apostam no principal nutriente dessa cadeia comunitária sustentável, as ações colaborativas. Neste contexto, cada produto se transforma em um pedacinho do assentamento e da vivência daquele lugar. “Tenho a impressão de que cada pessoa que adquire nossos produtos também faça parte da nossa história. Independentemente de onde ela venha, ela passa a fazer parte do nosso cotidiano, do nosso crescimento, do nosso conhecimento e da nossa expansão. Ela passa a ser uma colaboradora desse processo todo que a gente vive”, conclui Aniele.
Gi-Origin - Grupo de Mulheres Arte da Terra - Arataca
GiOrigin - Produtos do Assentamento Terra Vista

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